15 de set. de 2009

CONVERSA DE SENHORAS (by RM)


CONVERSA DE SENHORAS

Não preciso nem casar
Tiro dele tudo o que preciso

Não saio mais daqui

Duvido muito

Esse assunto de mulher já terminou

O gato comeu e regalou-se

Ele dança que nem um realejo

Escritor não existe mais

Mas também não precisa virar deus

Tem alguém na casa

Você acha que ele agüenta?

Sr. ternura está batendo

Eu não estava nem aí

Conchavando: eu faço a tréplica

Armadilha: louca pra saber

Ela é esquisita

Também você mente demais

Ele está me patrulhando

Para quem você vendeu seu tempo?

Não sei dizer: fiquei com o gauche

Não tem a menor lógica

Mas e o trampo?

Ele está bonzinho

Acho que é mentira

Não começa

Ana C.


Ana Cristina César (1952- 1983), ou Ana C. integrou o time de "poetas malditos" formado no início da década de 1970. Dona de uma elaborada escrita, influenciada por escritoras americanas, suicidou-se aos 30 anos (aqui para uma biografia resumida e aqui para uma pequena seleção de textos).
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9 comentários:

Anônimo disse...

Ela cansou de tudo isso..Esse pouco sentido, incompativel com toda essa vida.

Bjos, RM - vou ler alguns textos dela.

Ava disse...

Essas conversas...

A frieza que resta de algum sentimento...

Palaras sibiladas... algumas venenosas... outras maldosas...

Não conhecia a autora... claro que vou dar uma espiada nas suas dicas...rs


Beijos!

Roney Maurício disse...

Ei Celine,
acho que você vai gostar...

Ei Ava,
interessante sua interpretação. Acho que casa com a da Celine...

Udi disse...

Parceirim,
Fiquei fascinada com Ana Cristina Cézar desde que a li pela primeira vez.
Sensibilidade demais prá viver nesse mundo, não deu conta... ou, melhor, o mundo não deu conta dela :(

Lembra-me Maiakovski (que também suicidou-se):

"Para o júbilo o planeta está imaturo
É preciso arrancar alegria ao futuro
Nesta vida morrer não é difícil
O difícil é a vida e seu ofício"

Roney Maurício disse...

Ei Udi,
também me impressionou a leitura, incipiente, que fiz dos textos dela: a extrema dor da poesia...

Luna Sanchez disse...

Admiro o dom, a arte.

Assim como certos cantores pegam o microfone, abrem a boca e a voz espetacular, a interpretação cheia de emoção simplesmente flui, e nos encanta, outras pessoas pegam caneta e papel e colocam a vida ali, nua e crua...dá até medo.

Beijo, RM.

ℓυηα

Roney Maurício disse...

Ei Luna,
agradeço a simpática participação. Sim, em alguns autores isto é visceral...

Daniel Savio disse...

Estranhamente, fiquei com medo da parte:
" Não preciso nem casar
Tiro dele tudo o que preciso"...

Hua, kkk, ha, ha, vamos dizer que há um pouco de temor verdadeiro.

Fiquem com Deus, menino RM e meninas.
Um abraço.

Roney Maurício disse...

Daniel,
e você ainda tinha dúvidas quanto a isto? rss

Amém!